Conheça o percevejo-marrom, Euschistus heros, e as principais formas de controle!

Euschistus heros, também conhecido como o percevejo-marrom, é o principal inseto praga na cultura da soja. Além da soja, esta espécie pode atacar o feijão, algodão, milho, girassol entre outras espécies vegetais.

Devido ao seu hábito alimentar sugador, apresenta grande potencial de causar prejuízos nas culturas pois, ao sugar diretamente os grãos, reduz significativamente a produção e qualidade das sementes.

Seu ciclo de vida envolve três estágios: a fase de ovo, ninfa (os quais passam por 5 estágios ninfais) e adulto (Figura 1). Iniciam sua alimentação ainda na fase de ninfa, onde inicia-se também os danos, estendendo-se para a fase adulta.

              

FIGURA 1. Ciclo de desenvolvimento de Euschistus heros. Fonte: Cividanes, 1992.

Mas como é o desenvolvimento dessa espécie e como identificá-la?

As fêmeas depositam os ovos em forma de uma postura contendo geralmente de 6 à 12 ovos, inicialmente de cor amarela e depositados nas folhas ou nas vagens da soja, por exemplo. Com o passar de alguns dias, surgem desses ovos as ninfas, ou seja, a forma imatura do percevejo-marrom.

As ninfas passam por cinco estágios de crescimento. Ninfas recém-eclodidas apresentam coloração alaranjada e permanecem sobre a postura até atingirem o segundo instar. Ninfas do terceiro ao quinto instar apresentam coloração que varia do cinza ao marrom, e apenas no terceiro instar começam a se dispersar e a causar danos na lavoura.  

Os adultos possuem coloração marrom escuro e apresentam espinhos no pronoto, ou seja, na porção do corpo próximo à cabeça e atingem aproximadamente 12mm de comprimento (Figura 2).

FIGURA 2. Percevejo-marrom Euschistus heros, (A) ovos; (B) ninfas de primeiro instar; (C) ninfa de quinto instar; (D) adulto. Fonte: adaptado de Panizzi, 2012.

Quais os danos ocasionados por Euschistus heros?

Os danos são ocasionados pela sucção de seiva nos ramos ou hastes e nas vagens, diminuindo consideravelmente a produtividade e qualidade dos grãos, resultando em grãos chochos e mal formados. Além disso, também injetam toxinas, provocando a chamada “retenção foliar” (Figura 3).

FIGURA 3. Danos ocasionados por percevejos em soja. Fonte: Embrapa.

Embora os percevejos geralmente entram na lavoura no período vegetativo ou logo após a floração, é no período reprodutivo, quando inicia-se a formação de vagens que ocorrem os maiores prejuízos. A partir do desenvolvimento das vagens e início de enchimento dos grãos, momento em que a cultura é mais suscetível ao ataque, a população do percevejo-marrom tende a aumentar e seu crescimento populacional vai até o final do enchimento de grãos.


Como realizar o monitoramento dos percevejos?

Para se entrar com uma medida de controle, deve-se inicialmente monitorar a população da praga na área. Para estimar a população de Euschistus, recomenda-se o uso do pano de batida (Figura 4). As amostragens devem ser semanais e nas horas mais frescas do dia, momento que os insetos se movimentam para se alimentarem.

FIGURA 4. Pano de batida para amostragem de Euschistus heros em soja. Fonte: Embrapa.

O controle deve ser realizado quando atingir em média 2 percevejos por pano de batida para áreas de produção de grãos e 1 percevejo por pano de batida para áreas destinadas à produção de sementes.


Quais as principais formas de controle?

O manejo integrado de pragas é composto por diversos métodos de controle. Recomenda-se que os métodos sejam aplicados de forma conjunta, favorecendo assim eficácia do controle. Para o percevejo-marrom, pode-se citar os seguintes métodos:

Controle cultural: durante a entressafra, o percevejo sobrevive em áreas de refúgio e na vegetação espontânea nos entornos da lavoura. Dessa forma, deve-se dar total atenção ao manejo de plantas daninhas para quebrar o ciclo do percevejo. As principais plantas que servem de abrigo são a macega-estaladeira e o esporão-de-galo (Figura 5).

FIGURA 5. Plantas hospedeiras do percevejo-marrom, (A) macega-estaladeira; (B) esporão-de-galo. Fonte: Acervo Flora Digital-UFRGS.

Controle biológico: duas principais formas de controle biológico estão atualmente disponíveis para uso, que são a utilização do parasitoide Telenomus podisi e de produtos microbiológicos à base de Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae.

Telenomus podisi (Figura 6) é um inseto benéfico, uma vespa parasitoide que ataca e controla a fase de ovo de percevejos. As fêmeas depositam seus ovos dentro dos ovos dos percevejos, interrompendo o desenvolvimento da praga. Em decorrência do parasitismo, os ovos do percevejo tornam-se escuros e darão origem a novas vespas de Telenomus ao invés de novos percevejos. Estas vespas irão parasitar novos ovos de percevejos no campo, diminuindo de forma natural a população da praga.

FIGURA 6. Telenomus podisi, vespa parasitoide de ovos de Euschistus heros. Fonte: Eric R. Eaton.

Em relação aos microbiológicos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, são chamados de organismos entomopatogênicos, pois são fungos benéficos que se desenvolvem no corpo de insetos e neste caso, atacam a fase de ninfa e adulto de Euschistus heros. Quando em contato, tanto ninfas quanto adultos, ocorre uma infecção no corpo do percevejo, levando-o a morte com o passar de alguns dias.

Controle químico: os produtos comercias atualmente destinados aos controle do percevejo-marrom se limitam a 3 grupos químicos: organofosforado, piretroide e neonicotinoide, sendo atualmente o métodos mais empregado.

No entanto, é de extrema importância que o produtor opte pela utilização de produtos seletivos, de modo a não afetar os inimigos naturais e polinizadores.  

A escolha por métodos de controle de menor impacto ambiental, como o controle biológico por exemplo, garante uma produção sustentável e um ambiente mais equilibrado, preservando a saúde humana e ambiental.


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Sobre a autora: Roberta Tognon é Bióloga pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Engenheira Agrônoma pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). É Mestre e Doutora em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Compõe a equipe técnica de Pesquisa e Desenvolvimento da BioIn Biotecnologia e é Diretora da BioInsecta Serviços Agrobiológicos. Acredita na difusão do controle biológico de pragas agrícolas como ferramenta essencial aliada a boa produtividade e sustentabilidade ambiental.


Referências bibliográficas

AGROFIT. Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários. Consulta de praga/doença. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/ agrofit_cons/principal_agrofit_cons>. Acesso em: 10 set. 2021.

CIVIDANES, F.J. Determinação das exigências térmicas de Nezara viridula (L., 1758), Piezodorus guildinii (West., 1837) e Euschistus heros (Fabr., 1798) (Heteroptera: Pentatomidae) visando ao seu zoneamento ecológico. 1992. 100 f. Tese (Doutorado em Ciências) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP, Piracicaba, 1992.

CORREA-FERREIRA, BEATRIZ S.; PANIZZI, ANTÔNIO R. Percevejos da soja e seu manejoo. Embrapa Soja – Circular Técnico n.24, 1999.

PANIZZI, A.R; BUENO, A.F.; SILVA, FAC. Insetos que atacam vagens e grãos. Soja: manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga. Brasília: Embrapa, p. 335-420, 2012.

PANIZZI, A.R.; SLANSKY Jr., F. Review of phytophagous pentatomids (Hemiptera: Pentatomidae) associated with soybean in the Americas. Florida Entomologist. 68: 184-214, 1985.

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