Broca-pequena-do-fruto, Neoleucinodes elegantalis: uma praga séria para a cultura do tomate.

A broca-pequena-do-fruto ou também conhecida como broca-pequena-do-tomateiro, Neoleucinodes elegantalis, é uma das pragas chave da cultura do tomate.

 

Como identificar este inseto?

 

Seu ciclo biológico compreende quatro fases: a fase de ovo, lagarta, pupa e adulto e possui duração total entre 30 a 50 dias.

O inseto adulto é uma mariposa de coloração branca, asas transparentes com manchas marrom-avermelhadas, seu tamanho pode chegar a até 25 mm de envergadura, ou seja, com as asas abertas (Figura 1A).

As fêmeas adultas, depositam seus ovos isoladamente ou em grupos, nas folhas, flores ou frutos e possuem um formato achatado e coloração branca.

Do ovo surge a lagarta, fase que causa o dano na cultura. A lagarta possui cabeça escura, coloração branco-amarelada ou rosada e com pontos pretos ao longo do corpo. Essa fase pode atingir entre 11 a 13 mm de comprimento (Figura 1B).

Passados alguns dias, a lagarta se transforma em pupa, de coloração marrom e protegida por um casulo de seda esbranquiçado, geralmente encontrada no solo entre folhas ou detritos (Figura 1C).

 

Figura 1. Broca-pequena-do-tomateiro, Neoleucinodes elegantalis: A) inseto adulto; B) fase de larva; C) pupa. Fonte: Embrapa Hortaliças, 2019.

Quais os danos ocasionados por esta praga na cultura do tomate?

 

Através da ação de alimentação da larga, ela ocasiona um broqueamento nos frutos. Após a eclosão, a lagarta raspa a superfície do fruto perfurando-o, deixando dessa forma uma pequena cicatriz escura na casca do tomate. A lagarta passa a se desenvolver dentro do fruto, onde se alimenta da polpa e das sementes (Figura 2).

 

Figura 2. Danos de Neoleucinodes elegantalis em frutos de tomate. Fonte: Embrapa Hortaliças, 2019.

Passados alguns dias, a lagarta já com um tamanho maior do que quando entrou no fruto, faz uma nova abertura no tomate, abandonando o fruto e migrando para o solo, onde entrará para a fase de pupa. Esse orifício de saída da lagarta, é uma porta de entrada para outros insetos se alimentarem da polpa do tomate, como pequenos besouros e moscas, além da proliferação de microorganismos que causam o apodrecimento desse fruto atacado.

Dessa forma, frutos atacados por Neoleucinodes elegantalis se tornam inviáveis para consumo, tanto in natura como para processamento.

Essa praga costuma iniciar os ataques na cultura a partir do florescimento e com clima apresentando umidade relativa superior a 50%.

 

Quais as melhores técnicas de monitoramento e controle dessa praga?

 

A broca pequena é uma praga de difícil controle, pois a lagarta, assim que eclode, perfura e penetra no fruto, permanecendo nele até o final do seu desenvolvimento larval e por isso é dificilmente atingida.

Geralmente o controle dessa praga é realizado com o uso de produtos químicos, mas é importante também integrar os métodos cultural, comportamental e biológico.

Controle cultural: consiste em empregar práticas agrícolas rotineiras como, a catação manual e destruição dos frutos perfurados; eliminar plantas daninhas do grupo das solonáceas como joá e jurubeba (Figura 3); não cultivar plantas hospedeiras da praga nas proximidades da cultura do tomateiro; podar os brotos terminais (“quebra do olho”) quando a planta apresentar seis a sete cachos, ou seja, aproximadamente 55 dias após o transplante.

 

Figura 3: Plantas solanáceas: A) joá; B) juribeba.

Além disso, é importante realizar a inspeção de plantas, técnica que consiste na avaliação semanal de pencas com frutos em fase inicial de desenvolvimento (2 cm de diâmetro), considerando infestadas aquelas que apresentarem, pelo menos, um fruto com ovos ou com algum sinal de entrada de lagartas. Com isso, recomenda-se que o monitoramento tenha início no florescimento e seja intensificado durante a estação chuvosa e mais quente do ano, pois é o momento de entrada e ataque do inseto na cultura.

Controle comportamental: neste caso, pode-se utilizar armadilhas do tipo “delta” contendo o feromônio de Neoleucinodes elegantalis. Essas armadilhas vão servir para monitoramento da presença da praga na área e podem também ter a função de coleta massal do inseto adulto. Recomenda-se que sua distribuição na área plantada ocorra no início do florescimento da cultura, momento de entrada da broca e na altura de 1m do solo (Figura 4).

 

Figura 4. Armadilha tipo delta para captura de adultos de Neoleucinodes elegantalis.

Controle biológico: para a broca-pequena-do-fruto, tem-se dado especial atenção ao controle biológico conservativo, o qual visa a formação de um habitat adequado a manutenção e atratividade de inimigos naturais nativos, sejam eles predadores ou parasitoides. Portanto, a manutenção da vegetação espontânea que contenha inflorescências e adição de algumas plantas em efeito de bordadura como a flor de mel, trigo sarraceno e nabo forrageiro (Figura 5), são essenciais no manejo dessa praga, pois oferecem abrigo e alimentação com o fornecimento de néctar aos organismos benéficos, como é o caso da vespinha Trichogramma sp. um importante parasitoide natural de ovos da broca-pequena-do-tomateiro.

 

Figura 5. Plantas com flores para efeito de bordadura: A) flor de mel; B) trigo sarraceno; C) nabo forrageiro.

Também pode-se utilizar produtos microbiológicos à base de Bacillus thuringiensis, o chamado Bt, este possui efeito sobre as lagartas e portanto, sua aplicação deve ser realizada de modo direcionado nos frutos em formação e desenvolvimento, para atingir os insetos antes de entrarem nas folhas e frutos.

Controle químico: atualmente, existem inúmeros produtos registrados para uso na cultura do tomateiro para controle de Neoleucinodes elegantalis os quais pertencem principalmente aos seguintes grupos químicos: piretroide, organofosforado e benzoilureia (Agrofit, 2021). É importante sempre priorizar o uso de produtos seletivos e de menor toxicidade, além de rotacionar as aplicações diversificando os grupos químicos, de modo a não causar efeito deletério em polinizadores e outros organismos benéficos e não ocasionar o efeito de resistência às moléculas químicas nas pragas.

O manejo integrado de pragas visa o uso de diversas técnicas para controle e monitoramento de pragas agrícolas, portanto a combinação de diversas ferramentas quer sejam químicas, culturais e/ou biológicas, tornam o controle mais efetivo e duradouro.

Opte sempre pelos métodos mais sustentáveis e menos agressivos, com isso você estará colaborando com a manutenção da biodiversidade e saúde ambiental.

 

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Referências bibliográficas:

MICHEREFF FILHO, M. et al. Guia para identificação de pragas do tomateiro. Documentos 175, Brasília: Embrapa Hortaliças, ISSN 1415-2312, Nov 2019.

CARNEIRO, J. da S. et al. Bioecologia e controle da broca pequena Neoleucinodes elegantalis. Circular Técnica 26, Teresina: Embrapa Meio-Norte, 1998, 14 p.

HAJI, FN.P; ALBVCAR J.A. de; PREZOTTI, L. Principais pragas do tomateiro e alternativas de controle. Petrolina: Embrapa-CPATSA, 1998. 51 p. il.

MOURA, A.P.  et al. Manejo integrado de pragas do tomateiro para processamento industrial. Circular Técnica 129, Brasília: Embrapa Hortaliças, Fev 2014, 24 p.

 

O texto é da autoria da Dra. Roberta Tognon – publicado em 30 de setembro de 2021.

 

Sobre a autora: Roberta Tognon é Bióloga pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Engenheira Agrônoma pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). É Mestre e Doutora em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Compõe a equipe técnica de Pesquisa e Desenvolvimento da BioIn Biotecnologia e é Diretora da BioInsecta Serviços Agrobiológicos. Acredita na difusão dos métodos de controle de menor impacto ambiental para o manejo de pragas agrícolas como ferramentas essenciais aliadas a boa produtividade e sustentabilidade ambiental.

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